Mar Grande, 20 de Fevereiro de 2008. Verão.
“ Podemos dizer, indiferentemente, que a idéia de causa se baseia na de tempo, ou de que a de tempo se alicerça na de causa; a causa e o tempo simultâneos surgem ”.
Pois a causa do Trampolim esteve guardada, sendo cevada pelo tempo desde então. Em 2003 finalizei o primeiro tratamento, escrito em duas sentadas únicas, com um bom intervalo de alguns meses entre elas. No ano vivido em Londres sequer o abri, mas não raras vezes sentia a sua brisa. Crescia dentro da imaginação.
O local para a história estava definido e tão somente isso. Certo dia, dentro do autocarro 23, que ostentava na sua placa de destino a sintomática palavra “Batalha” - que se referia à bela praça no cimo do centro histórico da Cidade do Porto - me ocorreram alguns nomes curiosos, realmente interessantes para personagens e assim os fui anotando no pequeno caderninho com capa de couro que tinha sido do avô Agostinho e que me foi ofertado por Olavo antes do meu embarque para Portugal em 2000. Um caderno vazio, que atravessara três gerações. Havia apenas a bela dedicatória do meu irmão : “ Para você guardar as luzes lusas...e os sonhos azuis da aurora no Porto...”. Pois bem, nele anotei absolutamente todas as idéias para o “ Agostinho da Silva – Um Pensamento Vivo ” e tudo o que me começou a ocorrer para o Trampolim do Forte. Primeiramente os nomes, tais como : Felizardo, João Rapagão, Beiçola, Calçola, Mingo, Furico, Caga-Sêco, Fuleirinho, Overnaite, Palavreado, Bel Prazeres, Dora Avante, Lis Boa, Flor da Pele, Papai Garotão, Hannah Barbera, Fã Clube, Tia Arilma, Jóia, Tonga da Mironga, Tetéia e o mais “simples” entre estes : Déo, que na verdade se chamava Jesus de Deodato, em homenagem ao seu pai, Deodato, falecido.
Como exercício, lembro-me, comecei a fazer-me algumas perguntas : “As crianças pobres de Salvador que passam o tempo nos arredores do Forte de Santa Maria, na praia do Porto da Barra, gostam de quê ? e assim respondia as minhas próprias questões : “ gostam de pular do Trampolim, brincar, sonhar, ir à praia, dançar reggae, samba e pagode, gostam de capoeira, futebol e ver o pôr do sol por trás da ilha...”. Depois me perguntava “ Essas mesmas crianças enfrentam o quê ? abandono, violência, racismo, trabalho e exploração sexual infantil, marginalidade, más condições de habitação e saúde, perseguição policial e a má influência das igrejas oportunistas...”.
Com algumas dessas respostas pude ligar os pontos e dar sentido aos nomes dos personagens. Com estas respostas ficou claro saber que Bel Prazeres, Dora Avante, Lis Boa e Flor da Pele, por exemplo, seriam um grupo de prostitutas mirins. Ficou mais fácil perceber que Furico, Caga-Sêco e Fuleirinho seriam um trio de meliantes, assim como Hannah Barbera, Fã Clube e Tia Arilma seriam travecas desmesuradas. João Rapagão, Beiçola, Calçola e Mingo seriam os amigos mais próximos da dupla de protagonistas : Déo e Felizardo.
Ontem, correndo de manhã pela praia, já no fim da corrida, pisei numa Pinaúna escondida sobre os sargaços. Passei um bom tempo tentando tirar um espinho que teimava ficar encravado na sola do meu pé. Quando finalmente consegui, fiquei exultante, comemorei com se tratasse de um gol. Me veio na mente que iniciar a preparação de um filme assemelha-se como estar com os pés cheios de espinhos. E temos que ter paciência e disciplina para irmos tirando cada espinho, um a um, para finalmente conseguirmos pisar para chegar onde se quer.
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2 comentários:
AMEI PARTICIPAR DA FIGURAÇÃO DESSE FILME, QUE CERTAMENTE IRÁ BOMBAR! PARÁBENS A TODOS VCS.
Espero ansiosa ao lancamento do filme, já que um simplês, post pode me emocionar tanto! Sucesso... e que o filme alçance saltos tão grandes e bonitos como os visto no trampolim do POrto. Sucesso a Toda equipe!!!
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