terça-feira, 16 de junho de 2009

João Rodrigo fala para a Revista Lupa ( entrevista por Carlene Fontoura )

Quais as dificuldades encontradas para a produção e distribuição de audiovisuais na Bahia?

Não acho que as dificuldades encontradas para se produzir cinema na Bahia sejam muito diferentes das encontradas no resto do Brasil. O cinema é uma linguagem artística complexa e bastante cara e é feito em boa parte com dinheiro público, o que aumenta as responsabilidades de quem o produz.

As verbas dos editais públicos e privados certamente são importantes para alavancar os projetos, mas na grande maioria das vezes não são suficientes para finalizá-los. Deste modo subentende-se que, mesmo tendo um aporte estatal e federal, o caminho de captação através das leis de incentivo é quase incontornável para nós, produtores.

Temos que jogar com as regras que estão na mesa. E para isso é importante saber dimensionar bem os projetos e desenvolver soluções criativas sem por em risco a qualidade artística e técnica do produto, seja ele uma animação, um curta, um documentário ou um longa.

Quanto a distribuição, é o grande problema a ser resolvido na nossa atividade e isso não é novidade nenhuma pra ninguém. Pessoalmente acredito que para os filmes produzidos na Bahia é essencial um trabalho de network ainda mais intenso com o eixo sudeste, pois é lá que se encontram os centros de decisão neste assunto. Considero um erro pensar na distribuição apenas na fase final de produção e muitos aqui em Salvador ainda deixam isso pro último estágio. Batalho muito por este modus operandi aqui na DocDoma. Por exemplo, para mim não faz sentido algum trabalhar anos e anos em um projeto e lançá-lo num festival sem uma distribuição garantida, mesmo que discreta. Estamos preparando os nossos três primeiros longas e com certeza este raciocínio será posto em prática.


Sobre a atuação do Estado, os investimentos para o setor do audiovisual na Bahia tem sido suficientes para atender as demandas dos novos cineastas?

É inegável uma participação mais intensa do estado, apesar de todos os percalços de calendário que afetam a regularidade da produção. Testemunhamos uma coisa louvável que foram os longas do Edgard Navarro, Pola Ribeiro, José Araripe Jr, Lázaro Faria, Tuna Espinheira, Jorge Alfredo, Zé Umberto, Chico Liberato...enfim, uma geração que já deveria ter debutado neste formato bem antes, mas que por condicionantes políticas, só tiveram condições de se expressar na sua completude nos últimos anos.

Ora, está claro que os investimentos, apesar de mais regulares, não são suficientes ainda para atender as demandas nem dos antigos, quem dirá dos novos cineastas, que já não são poucos.

Mesmo assim, a classe apresenta-se mais organizada com a presença da ABCV ( Associação Baiana de Cinema e Video ) e com estâncias governamentais mais abertas ao diálogo, como a Secult, o Irdeb e a Bahia Film Comission, para citar alguns exemplos.

O que você considera como filme baiano?

Gosto de subverter um pouco esta discussão dizendo que o que temos que fazer é cinema brasileiro produzido na Bahia. No que temos que nos concentrar é em fazer um cinema que mesmo tendo um teor regional nas suas abordagens, tenha sobretudo um apelo universal, uma amplitude para dialogar em várias dimensões, com os mais diversos públicos. E este é um fator que influirá – e muito – na possibilidade de interesse na distribuição dos nossos filmes.

Como você analisa a atual produção de filmes na Bahia?

Interessante de se analisar. Pois sabemos o que foi feito e os erros e acertos destas experiências anteriores. Mas teremos aí uma nova fornada de filmes como Jardim das Folhas Sagradas, Estranhos, Pau Brasil, O Homem que não dormia, Filhos de João – O admirável mundo dos Novos Baianos, Cuíca de Santo Amaro – Ele, o Tal e Trampolim do Forte. São 07 novos longas metragens e diversos curtas em processo de produção. O atual momento é significativo e esperemos que nos traga mais acertos do que erros.

Quais as dificuldades encontradas para produzir o filme "Trampolim do Forte"?

Primeiramente, o fato de ser um longa B.O ( baixo orçamento ). Este edital do Minc, apesar de ser o mais acessível para diretores estreantes em longas de ficção – como é o meu caso – não nos permite dentro das suas próprias premissas, que captemos via Lei do Audiovisual ou Lei Rouanet. Ou seja, só nos resta a hipótese das leis de incentivos estaduais, municipais e via patrocínio privado direto, o que sabemos que na atual conjuntura econômica é algo muito difícil. Os fundos internacionais e soluções criativas como possíveis product placements também são possíveis numa conjuntura limitada como esta. Estamos tentando em todas estas frentes, mas o produzimos só com o R$ 1 milhão do B.O.

Rodamos o Trampolim com um elenco infanto-juvenil de não atores, preparado durante dois meses e meio por um dos maiores preparadores do Brasil, o Luiz Mario Vicente ( Cidade dos Homens, Querô, Terra Vermelha, entre outros ), rodamos na cidade, em pleno Porto da Barra lotado, 90% de exteriores, com cenas no mar, debaixo dágua, com uma excelente e numerosa equipe e grandes atores como o Luis Miranda, Marcélia Cartaxo, Zéu Britto, entre outros talentos daqui. Trouxemos o Uwe Dresch, um dos maiores técnicos de som da Europa, que se associou ao projeto. Ou seja, produzir isso tudo com 900 mil é um verdadeiro triunfo de planejamento. Mas sobretudo, reitero o fato de esse recurso, apesar de ser insuficiente, trata-se de dinheiro nosso, dinheiro público e é daí que tem que vir o maior comprometimento e a maior responsabilidade.

Acreditar em temáticas que exponham algum aspecto específico da cidade do Salvador faz com que o filme tenha uma melhor visibilidade para o público local, pelo fato das pessoas se identificarem com a história central?

Sem dúvida que sim, mas não podemos cair no erro de produzirmos coisas dessa magnitude e complexidade só para o nosso próprio umbigo. É importante que a obra tenha uma identificação com o seu lugar, com a sua cultura, com o seu povo, mas isso não deve constituir-se numa obrigação. Volto a reiterar que o que para mim é imprescindível é que o tema seja universal e possa interessar não só à Bahia, mas ao Brasil e sobretudo, ao mundo.

Qual o apoio específico da DocDoma na execução do filme "Trampolim do Forte"?

O apoio é total, visto que sou um dos sócios da empresa. Rodamos o filme com a nossa própria câmera e montaremos e o prepararemos para a finalização dentro da nossa própria estrutura, o que barateia um pouco os custos, logicamente. A DocDoma tem um formato interessante, que são seis caras apaixonados por cinema, comprometidos com a qualidade e o profissionalismo e que tem perfis diferentes. Temos montadores, finalizadores, roteiristas, diretores, mas todos somos, antes de tudo, produtores. E guerreiros. Pra se fazer cinema tem que ser guerreiro.

O filme será lançado quando ?

Numa perspectiva realista, “Trampolim do Forte” será lançado no primeiro semestre de 2010.