domingo, 19 de julho de 2009

Cinema & Música. Trampolim do Forte & Lourimbau ( por Flávio Sacramento. Folha Correio )

1- Quando surgiu a idéia de produzir um filme que tem o retrato marcante da realidade da infância Baiana?

Na verdade Trampolim do Forte é um filme sobre a importância da infância. A situação das crianças é um assunto premente em todo o mundo, não só na Bahia. Portanto, o filme parte de um contexto regional para tratar de um assunto com um enorme apelo universal.

Nasci e cresci no centro da cidade e o Porto da Barra sempre foi a minha praia, espécie de playground tropical. Quando escrevi o roteiro estava vivendo fora do Brasil e foi uma espécie de catarse, pois o escrevi muito rapidamente. Acredito que pelo fato de estar tratando de um ambiente familiar pra mim.

Portanto, conjurei memórias da minha infância e adolescência, contextualizando-as com a situação limite que vivem aquelas crianças que saltam do Trampolim do Forte de Santa Maria. São crianças que vivem o drama do trabalho infantil e no pouco tempo que sobra para serem realmente crianças, vão se encontrar no Trampolim para o exercício da criatividade através dos saltos, da vivência do lúdico, da amizade e solidariedade.


2- Como você avalia os investimentos em cultura não só áudio – visual como também a musical na Bahia? É fácil conseguir incentivo do governo estadual e ou outras parcerias?
É inegável uma participação mais intensa do estado. Mas nada é fácil. A política dos editais está amadurecendo. O conceito de territórios de identidade cultural levado a cabo pelo atual governo é interessante e faz sentido.

Mas estes recursos não são suficientes ainda para atender as demandas nem dos produtores de filmes nem dos produtores de música. Sabemos que menos de 1% do orçamento é destinado a cultura e este ano ainda estamos passando por um forte período de contingenciamento.
Sendo assim, as outras parcerias são fundamentais para qualquer projeto. No caso do Trampolim, fizemos um arco de parcerias com instituiçoes ligadas a criança e adolescencia como Projeto Axé, CRIA, Escola Picolino, Fundacíon Avina e UNICEF. Na área de cinema em si, alguns dos nossos parceiros são a Globo Filmes, Quanta, UD Film ( Alemanha ), Bahia Film Commission e Irdeb.


3 - Por que a música de Lourimbau foi escolhida para ser a trilha do Filme?
Conheço Lourimbau há mais de dez anos. Sou fã incondicional do seu trabalho, pois é lindo e me emociona muito. Escrevi todo o roteiro ouvindo as suas canções e nada mais natural do que convidá-lo para assinar a sua primeira trilha sonora para longa-metragem. Acredito que a sua música trará mais emoção as nossas imagens e também acho que o filme pode divulgar o seu trabalho além fronteiras. Portanto é uma sinergia entre amigos, mas sobretudo uma sinergia entre imagens e sons.

4 - Que música especificamente será tocada?
Isto não está definido ainda. Todas as já existentes poderão ser utilizadas e algumas novas naturalmente estão sendo compostas exclusivamente para o filme, com participação de outros músicos baianos, como o Roberto Barreto ( dos Lampirônicos ), um estudioso e novo virtuoso da nossa guitarra baiana.

5- O que você acha deste novo estilo musical lançado por Mestre Lourimbau?
Lourimbau, além de compor incrivelmente bem, faz os seus instrumentos com as próprias mãos. Ou seja, além de cantor, compositor e percussionista, ele é um lutier do Berimbau. E o seu trabalho musical é único justamente por ele conseguir transcender o caráter monocórdico deste instrumento, fundindo-o com o jazz, com o pop, com a música contemporânea em geral.

6-Em entrevista um produtor relatou que o cinema na Bahia ainda não é muito valorizado você concorda com esta afirmação? Por quê?
Isto é subjetivo. Não é muito valorizado por quem ?
Nós, autores, produtores, iniciativa privada, instancias estaduais e municipais é que temos que acreditar no valor dos nossos projetos. É uma questão de princípio e atitude. O cinema é porta estandarte da identidade cultural de qualquer povo e deveria ser tratado em todo mundo como política cultural estratégica.
O valor para mim é mensurado pela dose de paixão, dedicação e profissionalismo que cada um dá para as coisas em que acredita.