terça-feira, 7 de outubro de 2008

Diário Trampolim - 01

Mar Grande, 19 de Fevereiro de 2008. Verão.Vila-Rosa.

Ontem cheguei a Vila-Rosa com o objetivo de reescrever o Trampolim. Trata-se do seu oitavo tratamento. O verão oficial já acabou e com ele toda a sua trilha sonora sazonal e pseudo-erotizante. É com emoção tocante que posso ouvir e sentir todos os sons da real acústica natural da ilha : os pássaros cantam sobre a minha cabeça na grande mangueira, as folhas roçam-se ao bel prazer do vento e ao longe, mas ao mesmo tempo tão perto, ouve-se o marulhar das ondas beijando as areias da praia do Duro.

Graças a Deus e a todos os Orixás que a Vila-Rosa possa estar participando, mais uma vez, de um momento significativo da minha vida. Algo que começou ainda na muy leal e invicta Cidade do Porto em Portugal, quando em um momento de crise geral ( existencial, afetiva e financeira ), num arroubo, pus pra fora esta história que outrora não tinha início, meio, nem fim. Tinha apenas um local, que sobrevivia na minha imaginação e lembrança adolescente : o velho Trampolim plantado por não sei quem, no velho píer do mais velho ainda Forte de Santa Maria.

Destas três pranchas azuis de madeira saltavam, saltam e jamais pararão de saltar meninos, meninas, adultos e “coroas”. Entre estes, a partir de meados da década de 80 e durante toda a década de 90 estava eu, moleque de classe média nascido e criado na Avenida Sete, centro de Salvador. Eu exercitava lá durante o ano letivo os saltos – clandestinos - que praticava na ponte de atracação das lanchinhas, nos verões de infinitas férias em Mar-Grande. E aí está o ponto de interseção de toda esta história com a Vila-Rosa, a nossa cinqüentenária casa azul celeste idealizada pelo meu materno avô Badi, em pleno areal moreno deste recanto de Itaparica.

Quero crer que em 97, em outro instante instável da vida, banhando-me no Porto da Barra, olhei para o Trampolim e pensei o quão bela poderia ser a história de um filme que se passasse ali. A premissa ou dúvida rapidamente se tornou terrível para mim : a história deverá ser tão bela quanto a principal locação do filme ? A isso somou-se uma clara constatação : apesar de estar me iniciando nas lides audiovisuais, naquela altura não tinha condições nenhumas de sentar, imaginar e escrever um roteiro cinematográfico de longa metragem. Imagina, para mim, um história passando-se ali só poderia ser um longa ! ainda por cima me achei pretensioso pra caralho.

Portanto, onze anos se passaram desde esse primeiro lampejo e destes onze, cinco deles vividos na velha Europa, lá, onde pude realizar o meu primeiro filme, o longa documental sobre Agostinho da Silva. Na verdade uma busca ultramarina e pessoal de reconhecimento das minhas próprias raízes lusas, projetando luzes na tentativa de amplificar ao maior número de pessoas possível a vida, obra e exemplo do meu avô paterno.

Eis que antes da partida para Vila-Rosa para a reescrita do Trampolim, colhi o seu pequeno livro póstumo, organizado, prefaciado e batizado pelo Pedrão de “ Pensamento à Solta”. Combinei comigo mesmo que todos os dias ao acordar abriria em uma página aleatória, para ver o que o Avô teria a me dizer. Hoje pela manhã fiz o combinado e para a minha surpresa, abri em uma das minhas preferidas, talvez a preferida :

“ Todo o concreto vem de imaginar ”. Vamos a isso.

Um comentário:

Anônimo disse...

MEU NOME É NÁDIA CRISTINA CASTRO, SOU ATRIZ INICIANTE, TIVE O PRAZER DE PARTICIPAR DA FIGURAÇÃO DESSE FILME QUE IRÁ BOMBAR EM BREVE! JOÃO RODRIGO MATTOS ALÉM DE LINDO, JOÃO É UMA PESSOA MEIGA, ATENCIOSA CARISMÁTICA E CRIATIVA. PARÁBENS A TODA ESSA EQUIPE.(TINA TAURA)