terça-feira, 14 de outubro de 2008

Promo do filme!

Abaixo o video de divulgação do filme:

Trampolim do Forte na Revista Muito

Trampolim do Forte faz parte de uma nova geração de produções que estão fazendo o mercado cinematográfico da Bahia acontecer, é o que retrata a matéria da Revista Muito do Jornal A Tarde.
Veja a matéria a integra clicando aqui

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Diário Trampolim - 02

Mar Grande, 20 de Fevereiro de 2008. Verão.

Podemos dizer, indiferentemente, que a idéia de causa se baseia na de tempo, ou de que a de tempo se alicerça na de causa; a causa e o tempo simultâneos surgem ”.

Pois a causa do Trampolim esteve guardada, sendo cevada pelo tempo desde então. Em 2003 finalizei o primeiro tratamento, escrito em duas sentadas únicas, com um bom intervalo de alguns meses entre elas. No ano vivido em Londres sequer o abri, mas não raras vezes sentia a sua brisa. Crescia dentro da imaginação.

O local para a história estava definido e tão somente isso. Certo dia, dentro do autocarro 23, que ostentava na sua placa de destino a sintomática palavra “Batalha” - que se referia à bela praça no cimo do centro histórico da Cidade do Porto - me ocorreram alguns nomes curiosos, realmente interessantes para personagens e assim os fui anotando no pequeno caderninho com capa de couro que tinha sido do avô Agostinho e que me foi ofertado por Olavo antes do meu embarque para Portugal em 2000. Um caderno vazio, que atravessara três gerações. Havia apenas a bela dedicatória do meu irmão : “ Para você guardar as luzes lusas...e os sonhos azuis da aurora no Porto...”. Pois bem, nele anotei absolutamente todas as idéias para o “ Agostinho da Silva – Um Pensamento Vivo ” e tudo o que me começou a ocorrer para o Trampolim do Forte. Primeiramente os nomes, tais como : Felizardo, João Rapagão, Beiçola, Calçola, Mingo, Furico, Caga-Sêco, Fuleirinho, Overnaite, Palavreado, Bel Prazeres, Dora Avante, Lis Boa, Flor da Pele, Papai Garotão, Hannah Barbera, Fã Clube, Tia Arilma, Jóia, Tonga da Mironga, Tetéia e o mais “simples” entre estes : Déo, que na verdade se chamava Jesus de Deodato, em homenagem ao seu pai, Deodato, falecido.

Como exercício, lembro-me, comecei a fazer-me algumas perguntas : “As crianças pobres de Salvador que passam o tempo nos arredores do Forte de Santa Maria, na praia do Porto da Barra, gostam de quê ? e assim respondia as minhas próprias questões : “ gostam de pular do Trampolim, brincar, sonhar, ir à praia, dançar reggae, samba e pagode, gostam de capoeira, futebol e ver o pôr do sol por trás da ilha...”. Depois me perguntava “ Essas mesmas crianças enfrentam o quê ? abandono, violência, racismo, trabalho e exploração sexual infantil, marginalidade, más condições de habitação e saúde, perseguição policial e a má influência das igrejas oportunistas...”.

Com algumas dessas respostas pude ligar os pontos e dar sentido aos nomes dos personagens. Com estas respostas ficou claro saber que Bel Prazeres, Dora Avante, Lis Boa e Flor da Pele, por exemplo, seriam um grupo de prostitutas mirins. Ficou mais fácil perceber que Furico, Caga-Sêco e Fuleirinho seriam um trio de meliantes, assim como Hannah Barbera, Fã Clube e Tia Arilma seriam travecas desmesuradas. João Rapagão, Beiçola, Calçola e Mingo seriam os amigos mais próximos da dupla de protagonistas : Déo e Felizardo.

Ontem, correndo de manhã pela praia, já no fim da corrida, pisei numa Pinaúna escondida sobre os sargaços. Passei um bom tempo tentando tirar um espinho que teimava ficar encravado na sola do meu pé. Quando finalmente consegui, fiquei exultante, comemorei com se tratasse de um gol. Me veio na mente que iniciar a preparação de um filme assemelha-se como estar com os pés cheios de espinhos. E temos que ter paciência e disciplina para irmos tirando cada espinho, um a um, para finalmente conseguirmos pisar para chegar onde se quer.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Diário Trampolim - 01

Mar Grande, 19 de Fevereiro de 2008. Verão.Vila-Rosa.

Ontem cheguei a Vila-Rosa com o objetivo de reescrever o Trampolim. Trata-se do seu oitavo tratamento. O verão oficial já acabou e com ele toda a sua trilha sonora sazonal e pseudo-erotizante. É com emoção tocante que posso ouvir e sentir todos os sons da real acústica natural da ilha : os pássaros cantam sobre a minha cabeça na grande mangueira, as folhas roçam-se ao bel prazer do vento e ao longe, mas ao mesmo tempo tão perto, ouve-se o marulhar das ondas beijando as areias da praia do Duro.

Graças a Deus e a todos os Orixás que a Vila-Rosa possa estar participando, mais uma vez, de um momento significativo da minha vida. Algo que começou ainda na muy leal e invicta Cidade do Porto em Portugal, quando em um momento de crise geral ( existencial, afetiva e financeira ), num arroubo, pus pra fora esta história que outrora não tinha início, meio, nem fim. Tinha apenas um local, que sobrevivia na minha imaginação e lembrança adolescente : o velho Trampolim plantado por não sei quem, no velho píer do mais velho ainda Forte de Santa Maria.

Destas três pranchas azuis de madeira saltavam, saltam e jamais pararão de saltar meninos, meninas, adultos e “coroas”. Entre estes, a partir de meados da década de 80 e durante toda a década de 90 estava eu, moleque de classe média nascido e criado na Avenida Sete, centro de Salvador. Eu exercitava lá durante o ano letivo os saltos – clandestinos - que praticava na ponte de atracação das lanchinhas, nos verões de infinitas férias em Mar-Grande. E aí está o ponto de interseção de toda esta história com a Vila-Rosa, a nossa cinqüentenária casa azul celeste idealizada pelo meu materno avô Badi, em pleno areal moreno deste recanto de Itaparica.

Quero crer que em 97, em outro instante instável da vida, banhando-me no Porto da Barra, olhei para o Trampolim e pensei o quão bela poderia ser a história de um filme que se passasse ali. A premissa ou dúvida rapidamente se tornou terrível para mim : a história deverá ser tão bela quanto a principal locação do filme ? A isso somou-se uma clara constatação : apesar de estar me iniciando nas lides audiovisuais, naquela altura não tinha condições nenhumas de sentar, imaginar e escrever um roteiro cinematográfico de longa metragem. Imagina, para mim, um história passando-se ali só poderia ser um longa ! ainda por cima me achei pretensioso pra caralho.

Portanto, onze anos se passaram desde esse primeiro lampejo e destes onze, cinco deles vividos na velha Europa, lá, onde pude realizar o meu primeiro filme, o longa documental sobre Agostinho da Silva. Na verdade uma busca ultramarina e pessoal de reconhecimento das minhas próprias raízes lusas, projetando luzes na tentativa de amplificar ao maior número de pessoas possível a vida, obra e exemplo do meu avô paterno.

Eis que antes da partida para Vila-Rosa para a reescrita do Trampolim, colhi o seu pequeno livro póstumo, organizado, prefaciado e batizado pelo Pedrão de “ Pensamento à Solta”. Combinei comigo mesmo que todos os dias ao acordar abriria em uma página aleatória, para ver o que o Avô teria a me dizer. Hoje pela manhã fiz o combinado e para a minha surpresa, abri em uma das minhas preferidas, talvez a preferida :

“ Todo o concreto vem de imaginar ”. Vamos a isso.